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Aéticas & Amorais


Na trajetória da educação brasileira, houve um episódio sombrio que ecoa em nossa sociedade até os dias atuais: o golpe de 1964 e a subsequente exclusão da filosofia e, com ela, a ética e a moral do currículo escolar. Uma decisão que, à primeira vista, pode parecer distante no tempo, mas cujas consequências são sentidas de forma contundente no presente, atingindo nossas crianças e jovens, e moldando o comportamento dos adultos. A ausência do ensino estruturado e profundo desses conceitos fundamentais – ética e moral – desencadeia um abismo no coração de nossa sociedade.


A ética é o estudo do bem comum com um viés universal, enquanto a moral trata do certo e errado com um viés singular. Essas disciplinas não apenas nos fornecem um conjunto de regras a serem seguidas, mas também nos convidam a refletir sobre o porquê de tais regras e como elas se relacionam com o nosso papel na sociedade. A ausência desses ensinamentos fundamentais nas escolas contribui para o surgimento de uma geração que, muitas vezes, não consegue conceituar a ética e a moral e, consequentemente, age de forma equivocada.


Uma geração inteira, sem a presença fundamental da ética e moral, criam pessoas aéticas e amorais, ou seja, pessoas que não têm uma ética e moral como referência. O prefixo “a”, na frente de ética e moral, vem do grego e indica ausência.

As implicações dessa falha educacional são profundas e variadas. Para as crianças e jovens, o resultado é a falta de uma bússola moral sólida, o que pode levar a escolhas impulsivas, egoístas e imorais. Sem a compreensão das implicações de suas ações no bem-estar coletivo, eles podem inadvertidamente perpetuar um ciclo de individualismo prejudicial. Essa falta de discernimento ético pode resultar em decisões prejudiciais para si mesmos e para a sociedade como um todo. É o famoso “jeitinho brasileiro de ser” tão pernicioso e nefasto para todos.


No entanto, as consequências não se limitam aos jovens. A geração que cresceu sem uma base sólida de ética e moral agora ocupa posições de liderança, influência e poder em nossa sociedade. A ausência de uma compreensão sólida desses conceitos muitas vezes se reflete em políticas públicas deficientes, escândalos de corrupção e uma falta de responsabilidade social. Nossa sociedade paga o preço por essa lacuna no sistema educacional, enfrentando problemas como desigualdade social, injustiça e um ambiente tóxico de negócios. Veja os casos recentes: Americanas, 123Milhas e tanto outros.


A filosofia, que foi retirada de nosso currículo, é muito mais do que uma disciplina acadêmica; é o cerne do pensamento crítico e da construção de uma sociedade justa e compassiva. Reintroduzir o estudo da ética e moral nas escolas é crucial para corrigir essa lacuna educacional e moldar uma sociedade mais ética, responsável e compassiva. Devemos empoderar nossas crianças e jovens com as ferramentas para entender o impacto de suas ações e escolhas na sociedade, a fim de construir um futuro melhor para todos.


Algumas questões para você refletir:

  1. A quem interessa não ensinar ética e moral para nossas crianças e jovens?

  2. Se queremos que nossas crianças e jovens tenham uma postura ética e um agir moral, por que não cobramos as escolas deles para ensinarem esses temas de forma estruturada e profunda?

  3. Por que as escolas que “dizem” que ensinam, não têm profissionais (filósofos) que são responsáveis por esses temas, à disposição?

  4. Se queremos uma sociedade mais justa e igualitária, por que não valorizamos o aprendizado da ética e da moral que são a gênese para conseguir isso?

  5. Por que os adultos temem que as crianças aprendam ética e moral?

Isso posto é imperativo que reconheçamos a importância da ética e da moral em nossa educação e a necessidade de reintroduzir esses conceitos de forma profunda e estruturada. Somente assim podemos forjar um futuro no qual nossas ações sejam guiadas pelo respeito ao bem comum e pela compreensão do certo e do errado, garantindo uma sociedade mais justa e moralmente consciente. É nossa responsabilidade assegurar que a ausência de ética e moral no passado não continue a lançar sombras sobre o presente e o futuro do Brasil.


Se você quer deixar um legado relevante para seus filhos, proporcione esse aprendizado. A reflexão ética e o agir moral é o fio condutor de tudo isso.

Não precisamos de um mundo melhor para nossos filhos. Precisamos sim, de filhos melhores (éticos e morais) para o nosso mundo.

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